O forte crescimento no setor de cervejas especiais (ou artesanais, chame como quiser), acabou por despertar o interesse das grandes empresas cervejeiras pelo mundo, em especial a AB InBev, nascida da fusão da empresa brasileira Ambev com a belga Interbrew.
Só no último ano, a AB InBev adquiriu duas das principais cervejarias brasileiras que atuavam neste ramo de cervejas especiais, a mineira Wäls e a paulista Colorado, esta última um ícone e modelo que era respeitado por todos os cervejeiros do país, sendo que agora muitos deles temem o que pode ocorrer com os produtos da mesma e o impacto que isso pode causar no setor.
Já não fosse o bastante, a Cervejaria Bohemia, à qual pertence a AB InBev, decidiu lançar três novos rótulos inspiradas nessa linha de cervejas especiais, demonstrando, ainda mais, o interesse que a gigante companhia cervejeira, a qual detém 14% do mercado mundial de cervejas, vem despertando sobre este setor e sobre os consumidores que não vêem essa bebida como mais um dos produtos na prateleira do supermercado.
Os três novos rótulos da Cervejaria Bohemia, quais sejam, a Witbier Bela Rosa, a Belgian Blond Ale Caá-Yari e a IPA Jabutipa, possuem em sua fórmula ingredientes tradicionalmente brasileiros, a pimenta-rosa, a erva mate e a jabuticaba.
Este trio, quando anunciado pela cervejaria, causou expectativa e discussões antecipadas entre os apreciadores de cervejas tupiniquins, discussões essas que se acirraram ainda mais após o lançamento da trinca.
Poucos gostaram, muitos odiaram, muitos se influenciaram antes de experimentar, enfim, a polêmica foi grande acerca da qualidade dessas novidades lançadas pela Cervejaria Bohemia.
Passado um pouco dessa confusão, o Malte Sport Club, propositalmente, resolveu experimentar essas três polêmicas cervejas, buscando dar uma opinião, se possível, imparcial e fora da discussão que se formou nos meses passados, para que nosso objetivo continue sendo mantido, qual seja, falar de cerveja de forma simples e descomplicada, como bons consumidores do produto e para bons consumidores do mesmo.
Sobre a cervejaria: A cervejaria foi fundada em 1853, pelo colono alemão Henrique Kremer, na cidade de Petrópolis, interior do estado do Rio de Janeiro. Quando Henrique Kremer faleceu em 1865, a empresa ficou com os seus herdeiros, que a rebatizaram de Augusto Kremer & Cia.
Na época de sua fundação, a cervejaria preservava as características das cervejas alemãs da época, com uma produção inicial de seis mil garrafas por mês. O produto era distribuído através de charretes, carros puxados por animais etc., e as vendas eram feitas diretamente. Mais tarde, as vendas passaram a ser feitas através de revendedores da região de Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Com o passar do tempo, as características amargas e fortes das cervejas alemãs foram sendo alteradas, para entrar em conformidade com o mercado da época e com as marcas concorrentes, ou seja, se abrasileirando, e o sabor ficou mais leve e menos amargo, chegando ao ponto de como é vendida atualmente.
Posteriormente, a empresa mudou de nome para Imperial Fábrica de Cerveja Nacional, sendo que em 1898, a filha de um dos sócios da cervejaria, que era casada com Herique Kremer Jr., o neto do fundador da empresa, criaram a Companhia Cervejaria Bohemia.
Em 1960 a empresa foi comprada pela Companhia Antarctica Paulista, com produção na época de dez mil dúzias por mês. No ano de 2000, a Companhia Antarctica Paulista fundiu-se com a Brahma, formando a AmBev, hoje, AB InBev, conforme já explicado.
Pesquisas efetuadas no Arquivo Nacional e Biblioteca Nacional, assim como anotações existentes em bibliografias de reportagens da imprensa da cidade de Petrópolis, desde o ano de 1859 até hoje, apontam a Bohemia como a primeira fábrica e consequentemente a primeira marca de cerveja no Brasil, e a única a ser ainda produzida.
BELA ROSA - WITBIER
O que a Bohemia diz sobre a Bela Rosa: "Nossa relação com a cerveja tem mais de 160 anos.
Já estava na hora de colocarmos algo a mais! Por isso pegamos a Witbier dos belgas e demos um toque mais brasileiro.
Se o estilo criou cervejas de trigo mais leves, com casca de laranja e coentro, agora ficou mais refrescante com a nossa pimenta-rosa.
Essa é a Bela Rosa, uma cerveja cítrica, aromática e tentadora''.
Nossa avaliação: A Witbier Bela Rosa possui uma coloração amarela turva, com aroma de laranja, coentro e pimenta rosa, sendo que tais aromas se mostram um pouco artificiais. No sabor se nota bem o limão, que também está inserido na produção, com notas de laranja e coentro, mas, novamente, de forma artificial. Nota-se que essa cerveja é bastante gaseificada, inclusive, em alguns momentos, chegando a lembrar um refrigerante.
Pontuação Vitor: 2,0
Pontuação Karina:1,5
CAÁ-YARI - BELGIAN BLOND ALE
O que a Bohemia diz sobre a Caá-Yari: ''Se aqui as pilsen fazem sucesso, na Bélgica quem manda são as Belgian Blond Ale, um estilo de cerveja levemente adocicada e encorpada. Para dar um toque da Cervejaria Bohemia nessa história e uma pegada mais brasileira, a Caá-Yari recebeu o nome da deusa dos ervais e o leve amargor da erva-mate, criando uma cerveja aromática, equilibrada e surpreendente''.
Nossa avaliação: Essa Blond Ale possui coloração acobreada, aroma adocicado de malte, o qual se repete no sabor enjoativamente doce e, novamente, artificial de erva mate. A Espuma é de boa formação e média permanecia. Talvez a pior das três.
Pontuação Karina: 1,5
Pontuação Vitor: 1,5
JABUTIPA - INDIA PALE ALE
O que a Bohemia diz sobre a Jabutipa: "O papo é meio doido, mas a combinação surpreende. Tudo porque os ingleses resolveram levar uma cerveja estilo Pale Ale para a Índia, colocando mais lúpulo pra receita aguentar a viagem. Assim surgiram as India Pale Ale, receitas caprichadas no amargor que a gente resolveu equilibrar com o adocicado e a suavidade da nossa jabuticaba.
Essa é a Jabutipa, uma cerveja intensa, encorpada e geniosa."
Nossa avaliação: A Jabutipa tem coloração acobreada, límpida, com espuma de boa formação e baixa permanência. No aroma se destacam notas carameladas de malte, com um leve cítrico de jabuticaba bem ao fundo, o que se repete no sabor, entretanto, nessa IPA também se nota um sabor levemente artificial ao fundo, o que prejudicou severamente todas essas três novidades da Bohemia. Apesar dos pesares, podemos dizer que a Jabutipa é a melhor das três
Pontuação Karina: 2,0
Pontuação Vitor: 2,5
Enfim, provamos, como consumidores e apreciadores de uma boa cerveja, e não aprovamos os novos rótulos lançados pela Cervejaria Bohemia. Qual a verdadeira intenção da gigante AB InBev em lançar rótulos desta natureza e comprar algumas cervejarias artesanais brasileiras? Bom, isso não sabemos ainda, só o tempo dirá, mas o Malte Sport Club está com a pulga atrás da orelha...
Excelente publicação! Fiquei fã...abs!
ResponderExcluirMuito obrigado Rogério! Contamos com as suas visitas, comentários e sugestões. Abraços!
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